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Artigo destaca problema sobre a desertificação nas regiões semiáridas do Brasil
Desertificação de regiões do Semiárido brasileiro
Jeani Moreira de Oliveira Sandin/ /Igor Rodrigues de Assis
Nos últimos anos, as mudanças nos usos da terra estão intensificando o risco de desertificação em regiões do Bioma Caatinga. A desertificação é um problema ambiental caracterizado pela perda da produtividade do solo. E isso ocorre basicamente porque os solos desertificados são aqueles que perdem a capacidade de reter água. Esse fenômeno ocorre onde os solos estão sob o clima árido, semiárido e subúmido, em ambientes onde a evaporação de água é maior do que a precipitação. A desertificação traz consigo a perda da biodiversidade, a perda de solo agricultável e consequentemente o empobrecimento econômico das comunidades locais que dependem deste solo para a produção agrícola e animal.
A Caatinga é o quarto maior bioma brasileiro, representando 11 % da área do território nacional e compreende considerável parte de todos estados do nordeste, além de uma parcela do estado de Minas Gerais. É um ecossistema com plantas e animais que ao longo de milhares de anos se adaptaram ao clima Semiárido da região, com secas intensas e altas temperaturas, com precipitação anual de até 800 mm. No entanto, a atividade humana está levando essas condições a extremos, mesmo para as espécies mais adaptadas. Esse processo de degradação da Caatinga se iniciou há séculos, quando colonizadores passaram a derrubar grandes porções da vegetação nativa para a implantação da pecuária na região. Dentre os fatores humanos para intensificação do processo de desertificação destacam-se o desmatamento, a superexploração de produtos florestais, as queimadas, o sobrepastejo animal e o manejo inadequado do solo.
Segundo o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil, a Caatinga já perdeu pouco mais da metade de sua vegetação original. Mas mais de um quarto de todo esse desmatamento ocorreu nos últimos 35 anos, e no primeiro semestre de 2021, os índices de perda de vegetação deu um salto preocupante. A deterioração das condições climáticas nas regiões semiáridas foi mencionada no relatório do IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Segundo o documento, o Semiárido brasileiro e outras regiões semiáridas do mundo “estão mais propensas a enfrentar um aquecimento em todos os cenários futuros e provavelmente irão enfrentar um aumento na duração, magnitude e frequência das ondas de calor”. Ainda segundo o IPCC, a população local será a mais afetada pelas mudanças devido ao enfrentamento das flutuações no abastecimento de água, além de serem severamente impactadas por questões voltadas à segurança alimentar e econômica. E no relatório de 2019, o IPCC informa que 94% da região Semiárida brasileira está sujeita à desertificação. Ou seja, sem ações definitivas para conter as mudanças climáticas e o desmatamento na Caatinga, esse deserto no interior do Brasil pode chegar a maiores proporções.
A mudança do clima tem intensificado a desertificação, e é muito difícil determinar quanto desse processo se deve exclusivamente ao desmatamento. Entre 2012 e 2017, o semiárido enfrentou a maior seca desde que os níveis de chuva começaram a ser registrados, em 1850. A intensidade desta seca, que foi atribuída às mudanças climáticas, contribuiu para a expansão das áreas desertificadas. A razão pela qual os desertos estão se expandindo se deve, em parte, às mudanças nos ciclos climáticos que afetam a precipitação. Mas as mudanças climáticas intensificadas pelo homem também estão impulsionando esse processo. A seca extrema, o desmatamento e a pecuária degradam severamente os solos outrora férteis. A degradação dos solos e sua associação com a desertificação têm importância global e consequências nas estruturas sociais e econômicas das populações que ocupam as áreas onde se verifica este fenômeno. Estudos recentes descrevem o Semiárido como uma das regiões brasileiras mais susceptíveis às mudanças climáticas. Os impactos resultantes do aumento de temperatura e precipitação escassa afetarão a produção agrícola, os recursos hídricos a demanda de irrigação, a biodiversidade, a modificação do bioma Caatinga e a aceleração do processo de desertificação (Angelotti et al, 2009).
De todos os ambientes do Brasil, a região Semiárida é a mais vulnerável socialmente às mudanças climáticas, principalmente devido a potenciais impactos negativos sobre os recursos hídricos e a agricultura de sequeiro. A variabilidade climática intrínseca ao clima Semiárido do Nordeste foi tomada como fator de desvantagem regional e compreender os impactos das mudanças climáticas globais nesta região, em seus mais variados aspectos: ar, solo, água, economia, áreas de risco à ocupação humana, biodiversidade, entre outros, é fundamental para todos. Com base nesse conhecimento, devem ser formuladas políticas públicas visando o desenvolvimento sustentável do Semiárido brasileiro, aumentando a resiliência das comunidades e economias locais frente às mudanças climáticas.
A população desta região vem convivendo com seca e altas temperaturas há muitos anos. Portanto, os principais processos que levam a desertificação são as mudanças climáticas e as atividades humanas não adequadas, principalmente relacionado ao manejo do solo. Por outro lado, o bioma Caatinga é rico em espécies endêmicas perfeitamente adaptadas aos estresses hídrico, salino e a altas temperaturas. A região abriga um banco genético extremamente importante e pouco conhecido, o qual pode ser utilizado para a obtenção de genes usados no melhoramento de plantas agrícolas, permitindo assim encontrar alternativas para o aumento da produção de alimentos. Muitas tecnologias para mitigar ou mesmo reverter este processo já existem e precisam ser adotadas, possibilitando que a população destas regiões tenha melhor qualidade de vida e evitando grandes eventos migratórios.
REFERÊNCIAS
ANGELOTTI, F.; SA, I. B.; MELO, R. F. de. Mudanças climáticas e desertificação no Semi-Árido brasileiro. Embrapa Semiárido. 2009.
Desertificação e mudanças climáticas no semiárido brasileiro / Editores, Ricardo da Cunha Correia Lima, Arnóbio de Mendonça Barreto Cavalcante, Aldrin Martin Perez-Marin.- Campina Grande: INSA-PB, 2011. 209p.: il. ISBN: 978-85-64265-02-8
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLlMATE CHANGE. Summary for policymakers. In: INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLlMATE CHANGE. IPCC Fourth Assessment Report: Climate Change 2007. Cambridge, Cambridge University Press, 2007.